Por: Dra. Ana Escobar
O IBGE divulgou, nesta última sexta feira (21), na Pesquisa
Nacional de Saúde, dados interessantes: quase um terço das crianças com menos
de 2 anos de idade (32,3%) consome refrigerantes ou sucos artificiais e 60,8%
consome bolachas, biscoitos ou bolos.
A reação imediata de muita gente foi entender estes dados
como preocupantes, face aos crescentes índices de obesidade infantil no Brasil
que tanto preocupam famílias e profissionais da saúde. Tudo certo, sob a ótica
de que quaisquer líquidos ou alimentos aos quais se adiciona açúcar são
potencialmente “perigosos” para a saúde. Estes alimentos entraram, quase que
irreversivelmente, para a lista “negra” de muita gente.
Mas vamos refletir um pouco mais. Se assim considerarmos,
nos restaria a água e poucas outras opções como possibilidade de líquidos para
as crianças, uma vez que muitos sucos naturais também têm açúcar e, portanto,
são também calóricos. Além do mais, seria difícil imaginar festas infantis sem
o bolo ou sem os doces.
Hábitos alimentares
saudáveis se adquirem na infância? Sim, sem dúvida. E isso é muito importante.
O que fazer, então?
Mais importante do que simplesmente proibir as crianças de
comer bolachas, bolos, ou tomar refrigerantes e sucos artificiais, é ENSINAR os
pequenos a consumir estes e quaisquer outros alimentos com consciência e
moderação. Exatamente. Proibir ou vetar não é, definitivamente, a melhor
conduta. Ao contrário, aguça a curiosidade infantil, sempre ávida pelo
desconhecido e por novas conquistas. É comum ver crianças em festinhas comerem
doces em excesso e, não raro, escondido de seus pais.
Os produtos estão e estarão sempre às vistas dos pequenos: nas
prateleiras dos supermercados, na cantina, na porta das escolas, na televisão,
nos parques ou nos shoppings. Impossível não ver. Mas é possível fazê-las
entender que a alimentação da família tem suas regras bem definidas. E que
comer guloseimas ou beber refrigerantes tem seu tempo, hora e momento certo.
Muito importante lembrar que os produtos necessariamente
devem conter informações nutricionais sobre sua composição no rótulo. Sucos e
refrigerantes, inclusive. Leia com atenção para escolher o que melhor se adapta
a você e sua família, com especial destaque às crianças. Há muita variedade e é
fundamental entender, por exemplo, em relação aos sucos, quais as diferenças
entre suco de caixinha chamado “natural”, refresco ou néctar.
Ensine e oriente seus filhos para que consumam todos os
tipos de alimentos e bebidas conscientemente. Desde pequenos. Deem o exemplo.
Pode dar mais trabalho, mais certamente é muito mais eficiente do que
simplesmente proibir ou vetar sem explicar.
Fonte: G1
*Dra. Ana Escobar é médica pediatra formada pela
Universidade de São Paulo e professora livre docente do Departamento de
Pediatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Coordena a disciplina de
Pediatria Preventiva e Social do Departamento de Pediatria FMUSP e o Núcleo
Ciência pela Infância. É médica consultora do Programa Bem Estar da TV Globo,
colunista da Revista Crescer da Editora Globo.
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